O destaque da economia doméstica, nesta semana, foi a decisão do Copom. O Comitê do Banco Central confirmou as expectativas, ao elevar a taxa Selic em 0,50 pp, para 13,75%. Só que no comunicado deu algumas sinalizações não muito previstas, como a possibilidade de mais aumento dos juros básicos, um ajuste residual, de menor magnitude, de 0,25 pp. O Copom também reafirmou o compromisso com a desinflação e com a ancoragem das expectativas em torno da meta. Desinflação que está acontecendo em função dos cortes de tributos, como os que baixaram fortemente o preço da gasolina, apesar de os núcleos seguirem pressionados, com aumentos ainda preocupantes, como de Serviços, fora o índice de disseminação ainda elevado dos aumentos.
De qualquer modo, projeções apontam que o IPCA poderá sair dos atuais 11,89% em 12 meses, até junho, para algo próximo de 7% no final do ano. Problema maior é a ancoragem das expectativas para as metas. O BC prevê 4,6% para o IPCA em 2023 e o mercado já trabalha com variação acima de 5%, com novo estouro do teto da meta. Só que, nesse sentido, veio o recado de uma certa flexibilização de objetivos. Além de prever inflação abaixo do teto para o ano que vem e de 2,27% para 2024, o Comitê fala em estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2023 e, em grau menor, o de 2024. O objetivo da convergência parece estar agora entre o final de 2023 e o primeiro trimestre de 2024.
Esses sinais trouxeram leituras diferenciadas, dividindo as apostas entre um ajuste de mais 0,25 pp e interrupção do ciclo; continuidade, talvez, com mais um aumento, além do de setembro, pelas projeções em alta para a inflação do próximo ano, tanto pela composição atual do índice como por pressões que podem vir da reversão de medidas que estão garantindo a desaceleração agora; ou, até, uma parada nos 13,75% pela suposta postura dovish quanto ao horizonte da meta.
Fato é que podemos continuar vendo instabilidade na curva de juros, pelo acompanhamento dos índices de atividade, emprego e contas públicas, que embutem riscos de pressões adicionais na inflação, sem esquecer das eleições e das consequências que poderá ter sobre a política econômica a ser implementada a partir do próximo ano.
No contexto de formação das expectativas ainda é preciso incluir o conturbado cenário externo, com altas dos juros pelos bancos centrais, risco de retração global, com queda de preços das commodities, como tem ocorrido com o petróleo e o minério, o que ajudaria na desinflação, mas comprometendo receitas do País.
O certo é que vamos conviver com juros altos por um bom tempo, em patamar contracionista, jogando na contramão das medidas de estímulo do governo, que por enquanto estão levando vantagem, sem saber o impacto efetivo na inflação. Mas juros que, por outro lado, ainda podem assegurar boa atratividade para o capital externo, pelos diferencial em relação às taxas praticadas no exterior, mesmo que também estejam em alta. O smart money vai continuar buscando oportunidades independentemente das ondas de aversão ao risco, que podem prosseguir diante de cenários, aqui e no exterior, que guardam muitas incertezas. Mas até os balanços das empresas brasileiras, em algumas áreas, podem garantir atratividade e recuperação de preços na Bolsa local. Oportunidades nos vários ativos que os investidores daqui também devem aproveitar.