O resultado da 240ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), encerrado na quarta-feira (04), trouxe uma confirmação de expectativas e uma pequena surpresa.
A confirmação foi a elevação da taxa de juros referencial Selic para 5,25% ao ano, uma alta de 100 pontos-base ou um ponto percentual.
Esse resultado já vinha sendo expresso claramente nas expectativas dos investidores, algo que poderia ser confirmado pela mudança de preços das opções de Copom ao longo dos últimos dias.
A pequena surpresa esteve em um dos últimos parágrafos do Comunicado, divulgado imediatamente após a reunião.
Nele, o Comitê afirma que “para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude.”
Ou seja, os juros que hoje subiram para 5,25% ao ano vão avançar para 6,25%.
Há mais três reuniões agendadas até dezembro.
Se o Copom estiver em linha com as expectativas do Relatório Focus, nas duas últimas haverá um aumento de mais 0,75 ponto percentual, com a Selic iniciando 2022 a 7% ao ano.
Porém, nada indica que esses 7% sejam o teto de juros. O mercado pode demandar uma Selic ainda mais alta, no que provavelmente será atendido pelo BC.
Qual o significado disso?
O BC realizou um giro de 180 graus em sua política monetária.
Em pouco menos de um ano, ele inseriu e retirou o “forward guidance” para os juros, estabeleceu uma política de ajuste parcial, alterou-a para neutra e agora assumiu uma estratégia claramente restritiva para ancorar a inflação do próximo ano.
Na linguagem popular, o BC deu um “cavalo de pau”.
Seria isso realmente necessário?
Apesar de o remédio ser amargo, tudo indica que sim.
Ao agir de maneira muito mais rápida do que o esperado e ao se colocar na contramão da maioria dos principais bancos centrais, notadamente o Federal Reserve (Fed), o BC mostrou estar corretamente preocupado com a eventual desancoragem das expectativas.
Vamos recordar um pouco o passado recente.
No fim de 2011, ainda durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff, o BC liderado por Alexandre Tombini, negligenciando o avanço das expectativas sobre a inflação, iniciou um processo de redução forçada da Selic, que chegou a um mínimo de 7,25% ao ano em 2012.
As consequências para a economia foram devastadoras e são notórias.
A redução forçada da Selic desancorou ainda mais as expectativas, o que fez com que a inflação superasse o teto da meta pelos três anos seguidos.
Como resultado, a Selic teve de voltar para os dois dígitos e permaneceu por vários trimestres em 14,25% ao ano.
Só caiu para os 6,5% do início do mandato de Jair Bolsonaro devido à boa condução e ao comprometimento da Autoridade Monetária, sob comando de Ilan Goldfajn.
Ao assumir o BC, ele conseguiu ancorar novamente as expectativas.
Fim do flashback.
De volta a 2021.
A inflação está rodando muito acima da meta e há bons motivos para isso: alta das commodities internacionais, crise hídrica que eleva os preços dos alimentos e da energia, alta do dólar que pressiona os preços dos combustíveis.
Um bom argumento contra a alta dos juros é que essas causas vêm de desajustes da oferta, e não da alta da demanda.
Portanto, o livro texto não recomendaria uma alta de juros para desaquecer a economia.
Mas vale também ponderar sobre as consequências potencialmente perversas da desancoragem das expectativas para o Brasil.
Em uma economia fechada e oligopolizada como a nossa, processos inflacionários podem tornar-se crônicos e severos, exigindo doses muito maiores do remédio amargo dos juros.
Indicadores
O IAEmp (Indicador Antecedente de Emprego) do Instituto Brasileiro de Economia da FGV subiu 1,6 ponto em julho, para 89,2 pontos, maior nível desde fevereiro de 2020 (92,0 pontos).
Em médias móveis trimestrais, o IAEmp variou 3,5 pontos, para 86,7 pontos.
E Eu Com Isso?
Os contratos futuros do Ibovespa iniciam o dia em forte alta.
Além do movimento positivo do mercado internacional, a elevação das ações da Petrobras após os bons resultados e as compras de investidores internacionais puxam os preços.
As notícias são positivas para a Bolsa.
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