Tivemos novas altas dos juros no Brasil e nos Estados Unidos na super quarta, com mais aumentos na quinta pelo Banco Central da Inglaterra e o da Suíça. Todos reafirmando a tendência de aperto da política monetária em um cenário de inflação persistente e vários outros desafios. Reflexos da pandemia e a invasão da Ucrânia pela Rússia trouxeram mais desequilíbrio na cadeia de suprimentos, com novas pressões de preços, ao mesmo tempo que se vê uma onda de revisão, para pior, das projeções de expansão da economia mundial, com todos os desdobramentos que pode ter para as várias economias e, consequentemente, também sobre a demanda e preços. O mundo convive com riscos de desabastecimento de alimentos e aumento da fome. Os bancos centrais sabem que têm de ser mais firmes, até para calibrar expectativas, diante da inflação mais desafiadora. Só que não sabem bem qual seria a dosagem ideal do aperto. Ou sabem, mas não querem lidar com o risco de retrações mais fortes de atividade, com reflexos sociais e políticos.
Isso ficou subtendido na decisão do FED. Mesmo após declarações anteriores de Jerome Powell de que não promoveria aumentos mais pesados das taxas, houve necessidade de dar uma resposta ao salto da inflação, que chegou a 8,6% ao ano no acumulado até maio. Acabou sancionando as pressões da curva de juros, mas com o cuidado de sinalizar que a alta de 0,75 ponto não será referência para futuras decisões, nem há intenção de se produzir uma recessão da economia. Os juros podem voltar a subir no ritmo anterior, de 0,5, embora hoje se preveja um ciclo maior de aumentos, com a taxa na faixa dos 4% no final de 2023.
No Brasil, o Copom também trabalha com elevado grau de incertezas. Além das que vêm do exterior, tem o ambiente doméstico, com medidas de interferência nos preços, como o corte do ICMS. Não se sabe ao certo qual o reflexo sobre os preços e gera dúvidas do ponto de vista das finanças públicas, o tal arcabouço fiscal, sempre citado nos comunicados do Comitê, como um dos problemas no controle da inflação. Cortes de tributos que podem até ter impacto importante na inflação, se houver todo repasse, mas pode ter efeito minimizado por novos reajustes, como os esperados para os combustíveis. Sem esquecer que a normalização de alguns cortes de tributação pode trazer mais pressões para 2023. Tem mais: a inflação não está elevada só por causa de combustíveis e alimentos, que até pesaram menos na inflação de maio. Há uma disseminação forte dos aumentos de preços, como de bens industriais e serviços, que tem sido acompanhada com preocupação.
O BC tem indicado a intenção de parar de subir os juros, por cautela quanto ao ritmo da atividade, que tende a perder força daqui para o próximo ano, inclusive pelo impacto contracionista de todo o aumento dos juros que houve até agora. Só que não foi desta vez. A Selic subiu para 13,25%, como esperado, mas ainda vai subir mais na próxima reunião, 0,50 ou 0,25, e, talvez, também na seguinte, dependendo da evolução desse quadro de incertezas internas e externas.
Os bancos centrais que sempre tentam balizar as expectativas, vêm flutuando sob influência dos mesmos fatores que têm ampliado muito a volatilidade dos mercados. Talvez até por saberem que o ajuste necessário para garantir a convergência das expectativas para as metas seria muito nocivo, têm demonstrado uma flexibilidade maior. Aqui o Copom já falou em convergência para algo ao redor da meta em 2023. O FED abre prazo para trazer a inflação para a meta dos 2%. A previsão é de 2,6% no final do próximo ano. São desafios para além dos índices de inflação que deixam os BCs meio no escuro quanto ao cenário com o qual terão de lidar. O certo é que ainda teremos de lidar por um bom tempo com inflação elevada, juros em alta e perspectiva de freada da atividade.