Alberto Fernández é eleito na Argentina
Com 98 por cento das urnas apuradas, confirmou-se a eleição, em primeiro turno, do candidato peronista Alberto Fernández para a presidência da Argentina. Sua vice é a ex-presidente Cristina Kirchner, mentora da chapa que devolve o poder à esquerda após quatro anos do governo liberal de Mauricio Macri. Fernández obteve 48,03 por cento dos votos e Macri, que tentava a reeleição, 40,7 por cento. Macri reconheceu a derrota na noite de domingo (27).
Fernández já ocupou cargos em diversos governos peronistas. Os mais importantes foram as duas vezes em que ocupou a chefia de gabinete (semelhante ao cargo brasileiro de ministro-chefe da Casa Civil) de dois ex-presidentes: Néstor Kirchner (2003-2007) e Cristina, em 2008. Ele deverá adotar uma postura econômica heterodoxa. Já avisou que planeja congelar os preços por 180 dias e garantir um aumento salarial de emergência.
O presidente eleito, cuja posse está marcada para 10 de dezembro, mas poderá ser antecipada, terá de conter uma inflação acumulada de 60 por cento no último ano e lutar contra uma persistente recessão. Neste ano, a economia argentina deverá recuar 2,5 por cento. E isso não é uma boa notícia para as empresas brasileiras. Nos últimos anos, algumas delas aumentaram sua exposição no país à espera de uma recuperação da economia portenha. Veja quais são as empresas brasileiras mais afetadas pela derrota de Macri:
Autopeças: Metal Leve (LEVE3), Fras-le (FRAS3) e Randon (RAPT4).
A Argentina ainda é o maior mercado de exportações para o setor de autopeças brasileiro. Por isso, cada notícia nova impacta diretamente as empresas do setor. No primeiro trimestre, a Mahle Metal Leve (LEVE3) teve queda de 10,4 por cento em seu lucro justamente por conta da Argentina. Na Fras-le (FRAS3), as operações na Argentina correspondem a 16 por cento da companhia. A Randon (RAPT4), que controla a Fras-Le, também tem sofrido por conta do fraco desempenho da exportação de caminhões no país.
Frigoríficos: Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3).
Um dos raros setores que têm se beneficiado da instabilidade econômica na Argentina neste ano é o dos frigoríficos. Dois frigoríficos brasileiros têm forte presença no país. A Marfrig concluiu, em janeiro, a aquisição das operações da argentina Quickfood, enquanto a Minerva atua no país por meio da Athena Foods.
Pecuaristas argentinos vêm sofrendo com aperto de crédito e com o aumento dos custos na ração animal, o que pode reduzir o tamanho do rebanho e, consequentemente, o potencial de exportação das fábricas argentinas. Além disso, o retorno de Cristina Kirchner poderia enfraquecer as relações comerciais e exportações argentinas.
Vestuário: Alpargatas (ALPA4).
Trimestre após trimestre a Alpargatas vem sofrendo com a queda de suas vendas na Argentina. No segundo trimestre, as vendas no país recuaram 8,1 por cento. Em julho, a empresa vendeu seus ativos no segmento têxtil na Argentina por 14,4 milhões de dólares. Em dezembro do ano passado a empresa também vendeu 21,8 por cento da operação da Topper para o grupo Sforza, do empresário Carlos Wizard Martins.
Bancos: Banco do Brasil (BBAS3).
O Banco do Brasil tem cerca de 4 por cento de sua receita exposta à Argentina por meio do Banco Patagônia e, também, de empréstimos no país. No ano passado, a instituição brasileira elevou sua presença no banco do país vizinho para 80,38 por cento, após três acionistas minoritários terem exercido opção de venda.
Não foi a única eleição no Mercosul. No domingo, os uruguaios também votaram em um novo presidente. Haverá segundo turno. O governista Daniel Martínez, da coalizão Frente Ampla, de esquerda, teve 38,6 por cento dos votos, e o advogado Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, de centro-direita, obteve 28,2 por cento. O segundo turno está previsto para 24 de novembro. O Uruguai é presidido pela Frente Ampla há 15 anos. Antes de Tabaré Vázquez, o presidente uruguaio era José Mujica. Enquanto Martínez, um engenheiro de 62 anos, propõe a continuidade das políticas da Frente Ampla, que governa desde 2005, Lacalle Pou, um advogado de 46, sugere mudanças em gastos públicos, comércio e política externa.
BRASIL – Divulgada às 8:30 desta segunda-feira (28), a edição mais recente do Boletim Focus mostra o que já vinha sendo comentado no mercado na semana passada: aumentou o otimismo com o crescimento da economia. Segundo a pesquisa levantada pelo Banco Central (BC) junto a economistas do mercado financeiro, neste ano a economia deve crescer 0,91 por cento. O prognóstico da semana anterior era de 0,88 por cento. Há quatro semanas, a projeção era de 0,87 por cento.
À primeira vista, esse aumento não representa muita coisa. Porém, muito mais do que apenas olhar os números em termos absolutos, o que interessa é a mudança na trajetória da economia. Durante meses, o mercado financeiro foi reduzindo sucessivamente a projeção para este ano. Em janeiro, o número era de 2,5 por cento. Em outubro, havia caído ao mínimo de 0,87 por cento. Porém, gradativamente, a economia vem dando sinais de que está começando a se aquecer.
Um dos indicadores é a criação de empregos. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho, indica que durante seis meses a criação de vagas formais foi positiva em termos líquidos. No acumulado dos nove primeiros meses do ano foram criados 761,7 mil postos de trabalho a mais do que vagas foram fechadas.
Segundo os economistas, cada ponto percentual de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) pode representar a criação de 450 mil vagas. Assim, não se descarta a hipótese de que 2019 se encerre com um crescimento superior a 1 por cento.
E Eu Com Isso?
A eleição de um candidato peronista na Argentina não é uma boa notícia para o Brasil. A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, depois da China e dos Estados Unidos, e muitas de nossas empresas investem na Argentina. Durante os anos de governo dos Kirchner, empresários brasileiros tiveram de enfrentar mudanças de regras abruptas e inexplicáveis alterações. As divergências eram atenuadas pela aproximação ideológica com o governo brasileiro. Porém, agora, Jair Bolsonaro deve adotar uma postura menos favorável. Além de lamentar a eleição de Fernández e dizer que não vai cumprimentá-lo, Bolsonaro disse esperar prognósticos ruins para o Mercosul. Esperam-se solavancos à frente.
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