A inflação é hoje um problema global, que envolve uma série de fatores e impõe desafios que passam pelo corte de estímulos e políticas mais austeras de juros, ainda que persistam dúvidas quanto ao ritmo de retomada das economias. Aliás, persistem dúvidas também quanto ao próprio comportamento da inflação, vista por muitos ainda como passageiro e decorrente de desequilíbrios provocados pela pandemia.
O mundo enfrenta as consequências da falta de insumos, de componentes e de peças. Temos desde a indústria automobilística no Brasil freando a produção, em decorrência dessas dificuldades, até a Apple projetando menor oferta de iphones. Mas não são poucas as situações parecidas, que podem afetar até fluxo de comércio. Alimentos também foram e ainda são um problema global, com safras comprometidas pelo clima. Clima esse que nos levou a uma crise hídrica e energética, sendo que a crise de energia tem se alastrado por vários países e por diferentes condições. Há dificuldades desde a China com escassez de carvão, preocupações com emissão de carbono e outras questões, levando a restrições na oferta de energia, até o encarecimento e a falta de gás na Europa, sem esquecer do petróleo mais caro, que afeta o mundo todo.
Em vários países já ocorrem ajustes na política de juros, e o mercado global convive com a expectativa de início do corte dos estímulos pelo Federal Reserve nos Estados Unidos entre novembro e dezembro. Podemos estar começando a deixar para traz uma longa fase de extrema liquidez e juros muito baixos, o que tende a penalizar o fluxo de recursos, especialmente, para países emergentes, como o Brasil, pelo fator risco.
No Brasil, temos várias dessas pressões de preços ampliadas pelo dólar, ainda em patamar elevado, com tendência de se sustentar acima dos R$ 5,50, o que já levou o Banco Central a atuar com maior oferta de swaps e até da moeda. Se fala em busca de menor volatilidade, mas se sabe também o quanto o dólar mais acomodado pode colaborar com os juros em alta, no sentido de conter as pressões inflacionárias. Falta combinar com o Congresso e o próprio governo para uma pacificação política e nas questões fiscais, evitando mais instabilidades do mercado.
Nesse contexto temos opiniões muito divididas quanto à eficácia/necessidade de um aperto maior dos juros para conter uma inflação que vem, principalmente, da oferta, e não da demanda. Há os que defendem cautela, para não afetar muito o potencial de avanço da economia, já revisado para baixo. Por outro lado, há os que acreditam que, mesmo com uma elevação da Selic, além do projetado pela média dos analistas, a inflação ainda pode ameaçar a meta também em 2022. A memória inflacionária do País pode pesar, assim como a indexação ainda muito presente, fora a persistência de alguns fatores de pressão.
Em meio a essas incertezas, o Banco Central sinaliza com a manutenção do ritmo de elevação da taxa básica em um ponto a cada reunião do Copom, mas com a taxa podendo ir até o necessário para fazer com que a inflação retorne para um patamar compatível com a meta. Mas isso sem descartar uma possível mudança de ritmo, se houver mais pressões de alta.
Enfim, um cenário ainda bastante aberto. Nesse contexto, as apostas vão de 8,25 a 9,5% ou até um pouco mais para a taxa básica em 2022. Projeções que levam em conta tanto o cenário externo, e os reflexos que pode ter por aqui, como as condições locais que podem facilitar ou não o controle da inflação.
Fato é que os investidores têm de lidar com esse emaranhado de incertezas, definindo estratégias que passam por uma visão menos ou mais otimista dos fatos. É perceptível a falta de consenso nas análises, até porque se lida também com os aspectos políticos de muitas estratégias que possam ser adotada, não apenas no Brasil. Importante acompanhar com atenção indicadores e medidas que ajudem a formar expectativas mais realistas.
—