A publicação, nesta quarta-feira, da Ata da 242ª reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) mostrou o Comitê mais preocupado com a inflação e com o desarranjo das contas públicas do que na reunião realizada em setembro.
Nessa reunião, o Comitê chegou a discutir a possibilidade de elevar a taxa referencial Selic mais do que o 1,5 ponto percentual anunciado.
Na Ata anterior, os estímulos monetários e a reabertura das economias sustentavam um ambiente favorável aos países emergentes. Na mais recente, a percepção é que haverá menos crescimento em 2022 devido à retirada dos estímulos fiscais e monetários, o que piora a situação dos países emergentes.
A expectativa para a recuperação da economia brasileira no segundo semestre piorou, mas as perspectivas são boas para o setor de serviços, o agronegócio e a indústria extrativa.
A projeção para a taxa de câmbio subiu de R$ 5,25 para R$ 5,60. Isso, e a manutenção de preços elevados para a energia e para os insumos industriais devem não só elevar a inflação como também mantê-la elevada durante mais tempo. Daí o Copom ter elevado sua projeção de inflação neste ano de 8,5% para 9,5%, e de 3,7% para 4,1% em 2022.
Ademais, a inflação dos preços administrados esperada para este ano avançou de 13,7% para 17,1%. A projeção para 2022 subiu de 4,2% para 5,2%.
Os membros do Copom frisaram o aumento dos riscos fiscais e da consequente desancoragem das expectativas de inflação por parte dos agentes econômicos.
“O Copom reitera que o (…) esmorecimento no esforço de reformas estruturais e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, segundo a Ata.
A conclusão é inevitável.
“O Comitê entende que um processo de desancorarem de expectativas pode gerar elevados custos econômicos de longo prazo, motivando o Copom a escolher uma trajetória de elevação de juros compatível com a convergência da inflação para a meta ainda em 2022.”.
Além disso, indicou que na última reunião deste ano, agendada para dezembro, a Selic deve ser mais uma vez aumentada em 1,5 ponto percentual, para 9,25% ao ano, o maior nível desde 2017.
A única questão pendente é que, segundo a Ata, tanto na reunião mais recente quanto em todas as outras reuniões realizadas neste ano, a decisão concernente à política monetária foi tomada por unanimidade.
Qualquer pessoa que já tenha presenciado uma conversa profissional entre economistas – como a maioria dos membros do Comitê – sabe que divergências técnicas fazem parte do processo.
A velha piada é que quando três economistas se reúnem para propor algo, a reunião produz no mínimo quatro soluções.
Por isso, ou essa unanimidade é apenas protocolar, ou os membros do Copom estão menos permeáveis do que deveriam às nuances do debate.
Federal Reserve
Além da Ata da reunião, os investidores vão prestar atenção ao fim da reunião do Fomc (Federal Open Market Committee), o Copom americano. O mais importante e relevante serão as declarações de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, sobre a redução dos programas de estímulo à economia.
Em abril do ano passado, o Fed iniciou um programa de recompra de títulos públicos e hipotecários que vem injetando US$ 120 bilhões por mês na economia. Com isso, o balanço do Fed avançou para inéditos US$ 8,6 trilhões e os Estados Unidos começam a viver um processo inflacionário. A redução é questão de tempo.
Em declarações anteriores, Powell já adiantou que a redução dos estímulos, conhecida como “tapering”, pode começar ainda neste ano e deve estar concluída em meados de 2022.
Por isso, a expectativa mais comum é que a recompra seja reduzida em US$ 15 bilhões por mês, o que encerraria o programa em oito meses. No entanto, o Fed pode indicar um ritmo diferente. E aí moram os riscos de volatilidade.
Se mostrar que quer reduzir as recompras mais rápido do que o esperado, o Fed pode provocar, em menor escala, um fenômeno de 2013 que ficou conhecido como “taper tantrum”.
Naquele momento, os investidores se surpreenderam com uma decisão do BC americano de apertar sem aviso prévio a política monetária que havia sido afrouxada devido à crise do subprime.
O inesperado provocou uma forte volatilidade nos preços. Como o Fed vem dizendo há tempos que vai desacelerar as compras, não se espera algo semelhante.
No entanto, também agora há riscos de algum mal-entendido. Se anunciar um corte muito abrupto, haverá volatilidade nos preços. Se, ao contrário, indicar uma redução mais lenta, a conclusão do mercado pode ser que o Fed ainda está preocupado com o crescimento da economia, mandando sinais de que a situação ainda não está tão positiva.
Assim, a atenção com que as declarações de Powell serão acompanhadas nesta quarta-feira.
E Eu Com Isso?
Os contratos futuros do Ibovespa iniciam a volta do feriado em baixa, seguindo a direção do mercado americano. Os investidores estão receosos da decisão do Federal Reserve a ser anunciada mais tarde, o que pode amplificar a volatilidade do mercado.
As notícias são negativas para bolsa em um cenário de volatilidade.
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