Divulgado na sexta-feira (23), o IPCA-15 veio acima do esperado. Em julho, o índice, que funciona como uma prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), registrou um aumento de preços de 0,72 por cento. Apesar de inferior ao 0,83 por cento registrado em junho, o resultado ficou acima das expectativas. A mediana dos prognósticos estava em 0,62 por cento.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice foi puxado pela alta de 4,79 por cento nos preços da eletricidade. Com o resultado, a prévia da inflação teve a maior alta para o mês desde 2004, quando atingiu 0,93 por cento.
Há 27 anos, antes da estabilização da moeda decorrente do Plano Real, conversas sobre inflação eram o feijão com arroz da economia brasileira. Durante décadas, salvo alguns desarranjos pontuais, a inflação saiu da pauta. Porém, agora ela voltou a ser fonte de conversas e de preocupação. Por isso, vale a pena nos debruçarmos um pouco sobre o tema.
IPCA, INPC, IGP-M: entenda a sopa de letras
Antes de mais, nada uma pitada de teoria – só um pouquinho. Há dois grandes grupos de índices de inflação. O primeiro grupo é o dos índices de preços ao consumidor, que medem a variação dos preços de cestas de consumo das famílias. Os mais importantes são o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e o IPCA, ambos calculados pelo IBGE.
A diferença entre eles são os produtos e serviços cujos preços são acompanhados. O INPC acompanha a variação de uma cesta consumida por famílias com renda entre um e oito salários mínimos, ou 1,1 mil a 8,8 mil reais. O IPCA tem a mesma metodologia, a diferença é que os produtos e serviços são de uma cesta consumida por famílias com renda de um a 40 salários mínimos – 1,1 mil a 44 mil reais. Os preços são levantados entre o primeiro e o último dia do mês, e divulgados ao redor do décimo dia do mês seguinte.
O IPCA é o índice mais importante do País. É ele que o Banco Central (BC) consulta para saber se a meta de inflação está ou não sendo cumprida.
No caso do IPCA-15, a única diferença é o prazo de coleta dos preços, que é realizado entre o dia 16 do mês anterior e o dia 15 do mês corrente, sendo divulgado de oito a dez dias depois. Como o IPCA é muito importante para a economia, faz sentido que seja divulgado um levantamento prévio.
O segundo grupo é o dos índices gerais de preços. São mais abrangentes (e mais voláteis) que os índices do grupo anterior. Além dos preços ao consumidor, eles medem a variação dos preços de matérias primas e de outros insumos básicos da indústria. Os principais índices gerais de preços no Brasil medem também a variação dos custos da construção civil.
O mais conhecido deles é o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Os preços são levantados do dia 21 do mês anterior ao dia 20 do mês corrente, e o índice é divulgado no penúltimo dia útil do mês corrente.
O IGP-M é uma adaptação do IGP-DI, o mais antigo dos índices de inflação do País (a FGV começou a divulgá-lo em 1944). Nos tempos da inflação elevada, era preciso ter um índice já pronto antes do fim do mês para permitir a correção dos contratos logo no início do mês seguinte. Atualmente, o IGP-M é usado principalmente para indexar aluguéis e algumas tarifas públicas.
A inflação e o seu dinheiro
Voltando ao IPCA-15 de julho. O acumulado em 12 meses desse índice está em 8,59 por cento. Esse percentual está muito acima da meta de inflação estabelecida para o ano. O alvo para o qual o BC mira é de 3,75 por cento, com uma tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Assim, o máximo de inflação “permitida” para o BC seria 5,25 por cento em 2021. E a título de curiosidade: as metas de inflação para 2022, 2023 e 2024 são, respectivamente, 3,50, 3,25 e 3 por cento. Ou seja, a tarefa do BC não será fácil.
Vamos supor que IPCA-15 e IPCA são iguais. Como a inflação em sete meses do ano pelo IPCA-15 já está em 4,88 por cento, é improvável esperar que, em cinco meses, o índice suba apenas 0,37 por cento, que é o que falta para o teto da meta ser atingido. Moral da história, é bastante provável esperar que os juros vão continuar subindo para que o BC consiga fazer a inflação baixar para mais perto do centro da meta.
Isso quer dizer que os juros terão de aumentar para conter a inflação e esse resultado vai demorar para aparecer. Assim, a taxa referencial Selic vai subir e permanecer elevada por bastante tempo. Como se aproveitar disso para melhorar a rentabilidade do seu dinheiro?
Uma indicação óbvia são os Fundos de Investimento Imobiliário (FII). Boa parte dessas carteiras, em especial os fundos dedicados a Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), tem seus rendimentos indexados a índices de inflação, como o IPCA ou o IGP-M. Assim, os FII são uma boa pedida, ainda mais que a isenção tributária de seus rendimentos continuará existindo.
Outra indicação são os FII e os títulos do Tesouro Direto cuja rentabilidade está ligada aos juros de mercado. Como a taxa dos Certificados de Depósito Interfinanceiro (CDI) acompanha de perto a Selic, é bastante provável que os juros das aplicações subam e permaneçam elevados durante um bom tempo. Assim, depois de vários meses com rendimentos anêmicos, os títulos de renda fixa voltam a ser atrativos.
E, para escolher as melhores alternativas, acompanhe os relatórios de Tesouro Direto e dos Fundos Imobiliários preparados pelos analistas da Levante Ideias de Investimento.
Abraços,
Equipe Levante.
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