Alguns sinônimos para expectativa são: espera, anseio e possibilidade. O mercado estava na expectativa que o Banco Central americano subisse em 0,5% seu juro base, na reunião da última quarta-feira.
Ocorre que esse anseio era verdadeiro até a última semana, antes de “vazar” ao mercado, pré reunião do FOMC (Federal Open Market Committee, responsável por estabelecer a política monetária do FED, “equivalente ao nosso COPOM”), a possibilidade de um aumento de 0,75% no juro.
Você deve estar se perguntando: “Mas só 0,25% de diferença justifica tamanha queda nos mercados?” O Ibovespa, só na última semana, caiu mais de 6% e, nos últimos 15, dias 11%; levando a uma queda de 5,5% no ano. Isso sem comentar os Índices americanos como NASDAQ caindo mais de 30% e S&P caindo mais de 20% no ano, tecnicamente em Bear Market.
Minha resposta é direta: Apenas 0,25% não justifica. É muito preciosismo e já vi outras vezes o mercado subir por aumento de juros até maiores, então o ponto aqui é outro.
Ao meu ver, a quebra de expectativas que tem levado os mercados no mundo para baixo está atrelada ao discurso conduzido pelas autoridades monetárias. Semelhante à confiança que depositamos em qualquer líder. A condução da política monetária segue a mesma linha. Se “você” fala: “A inflação vai arrefecer se subir os juros, ‘eu’ acredito.” Acontece que isso não tem ocorrido na velocidade que o mercado quer.
A função número um de um Banco Central é conter a inflação. Eles têm falhado nisso. Porém, pior do que subir os juros, é subir mais do que haviam inicialmente afirmado. Ainda pior é fazer isso em tão pouco tempo e em um problema que não é surpresa para mim, imagino que não seja para você e custo a acreditar que os “melhores economistas do mundo” se surpreenderam com um novo aumento da inflação.
A relação de confiança entre mercado e FOMC foi quebrada. O discurso da última quarta não foi novidade (aliás, o termo “super quarta” deveria ser removido, na minha opinião).
O FOMC continua dependente e aguardando dados, como o próprio chairman Powell gosta de frisar em seus discursos. Já o mercado tem sua própria forma de analisar os dados e se antecipar.
Quando a expectativa é quebrada, os riscos são reajustados, não no cenário atual, mas sempre prospectivo. Ora, se a inflação continuar a subir, os juros continuam a subir e os ativos serão reprecificados agora, não amanhã.
O que vimos na última semana é a espera pelo pior, que pode também não acontecer. Dentre as inúmeras quedas, sempre há ativos que se valorizam e aqueles que ficam baratos. Nossa função, enquanto alocadores de capital, é avaliar os riscos. A pergunta não é se e nem quando, mas como alocar da melhor forma.
Não podemos esquecer que vivemos a última década de juros negativos, “falta” de inflação (Europa, Estados Unidos e Japão) e excesso de liquidez. Ativos da velha economia (petróleo, minério, energia, agrícolas) ficaram esquecidos. Porém, no momento atual, são destaque. “Somos uma Bolsa de commodities”, basta saber como alocar.
Um abraço e bom domingo,
Enrico Cozzolino