Levante Ideias - Domingo de Valor

O maior erro dos investidores

Na coluna de hoje eu vou falar sobre um dos maiores erros que um investidor pessoa física pode cometer ao investir em ações: fazer uma posição grande demais.

Acredito que os sentimentos de ganância e de medo são as emoções que fazem com que as pessoas físicas tenham perdas financeiras muito grandes no mercado.

Nas últimas semanas observei nas redes sociais (Instagram e Twitter) que alguns investidores tiveram perdas catastróficas com as ações da Cogna (COGN3), pois fizeram operações alavancadas com opções de ações.

Irei comentar sobre duas ações que são as “queridinhas pop” dos influencers digitais (Fintwit, Youtube e Instagram): Cogna e Oi.

Afinal, o mercado adora uma fofoca e eventos corporativos que trazem enorme volatilidade no preço das ações no curto prazo.

 

Realize o lucro sempre cedo demais

Esse é um dos principais “Axiomas de Zurique” e um dos meus lemas preferidos em investimentos. Uma outra forma de explicar seria: “comprar guarda-chuvas em dias de sol” ou “compre ao som dos canhões e venda ao som dos violinos”.

Semana passada eu tive a oportunidade de reencontrar um grande amigo meu que se formou comigo na Fundação Getulio Vargas (FGV). Irei chamá-lo apenas de “Ari”.

O Ari estava bem animado com o investimento dele na Oi (OIBR3), as ações haviam chegado a subir 70 por cento no acumulado do mês de julho, saindo de 1,25 real para 2,05 reais por ação em 28 de julho (dia de maior alta de 15,8 por cento).

Eu fiz duas perguntas para o meu amigo:

“Qual o tamanho da sua posição especulativa de Oi dentro da carteira de ações e em relação ao patrimônio total?”

“Você já começou a vender a posição e a colocar algum dinheiro no bolso?”

Afinal de contas a posição dele de ações da Oi já tinha dado um ganho de pelo menos 50 por cento.

O meu amigo respondeu que não havia vendido nenhuma ação da Oi. Pelo contrário, tinha comprado ainda mais ações no dia de forte alta.

O Ari perguntou o que eu faria com as ações da Oi naquele momento depois da alta de 50 por cento e minha resposta foi: “nesse preço de 2,00 reais eu venderia uma parte da posição e colocaria um pouco de dinheiro no bolso”.

A ganância de ganhar mais (muito comum nos investidores pessoas físicas) acabou impedindo o meu amigo de vender parte das ações, realizar os lucros e a sua posição em Oi acabou ficando muito maior que o recomendado.

Ele não me falou o percentual exato da Oi na carteira. Amigos, amigos; negócios à parte. Vamos dizer que ele tenha 10 por cento da sua carteira de ações em Oi, muito embora eu acredite que a participação fosse bem maior.

Com a alta de 50 por cento no preço das ações da Oi, a sua posição em ações da empresa de telecomunicações passou a representar cerca de 15 por cento da sua carteira de ações, considerando que os preços das outras ações da carteira se mantiveram inalteradas.

Considero alta uma participação de 15 por cento numa ação considerada especulativa, que depende de eventos corporativos com alto grau de incerteza (como a que preço será a venda dos ativos do negócio móvel e quanto tempo demorará para que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprove a transação.

O caso de Oi parece aquele time de futebol que está na zona de rebaixamento e que não depende apenas de si mesmo para virar o jogo e permanecer na primeira divisão. A situação da Oi melhorou nas últimas semanas, mas o time ainda não se livrou da “zona da degola” e ainda restam algumas rodadas pela frente.

Eu até acredito que a venda do negócio móvel da Oi deve se concretizar, provavelmente na faixa dos 16,5 bilhões de reais, que foi a proposta oferecida pelo consórcio entre Claro, Tim e Vivo, mas ainda há muitas incertezas na conclusão do negócio.

 

Posição de maior risco tem que ser pequena

Eu não vejo nenhum problema em investir uma pequena parcela do patrimônio em ações de alto risco, mas eu fiquei bastante preocupado com o Ari. Afinal, a alegria de ganhar 50 por cento é muito menos intensa do que a amargura de perder 50 por cento do seu patrimônio.

Se a posição é pequena (menos que 5 por cento da carteira de ações) não vejo problema, mas se a posição for muito grande, eu vejo um risco alto demais. A possível perda pode ser grande demais e causar muito stress no investidor, que ficará sem dormir.

Existem investidores que aplicam todo o seu patrimônio em ações especulativas (vendem casa, carro) e correm um risco grande demais, praticamente uma roleta de cassino: preto ganha, vermelho perde.

 

The Safe Investor, de Tim McCarthy

Eu gosto sempre de citar livros aqui na coluna Domingo de Valor: O investidor seguro, tradução livre já que ainda não existe versão em português. O autor é um dos fundadores da corretora americana Charles Schwab, empresa que inspirou o modelo de negócios da XP Investimentos.

O exemplo do livro que mais gosto é o modelo de três bolsos para investimentos: reserva de curto prazo (emergência), aposentadoria (investimento) e negociações de maior risco (trading) com prazo variáveis. Eu utilizo muito esse modelo de bolsos (caixas) para fazer a alocação de uma carteira de investimentos por classe de ativos.

Não vejo nenhum problema em haver um bolso para o “trading”, ações especulativas e apostas, mas é importante que ele tenha um tamanho reduzido (no máximo 5 por cento da carteira de ações). Se o investidor perder o dinheiro das apostas especulativas, não vai perder o seu sono e o patrimônio conquistado no decorrer da sua vida de trabalho.

 

Volatilidade das ações

Aqui eu pretendo mostrar o alto nível de risco das ações especulativas da Oi e Cogna. O caso de Cogna é especial e menos especulativo que Oi, mas o IPO da Vastas unidade de educação básica da Cogna (que antes se chamava Kroton) e grande posição vendida (alugada) das ações (COGN3) turbinou a volatilidade.

O Ibovespa apresentou volatilidade anualizada de 54,6 por cento no acumulado de 2020, enquanto as ações consideradas especulativas como Cogna e Oi, têm volatilidade de 97,4 por cento e 90,9 por cento ao ano, respectivamente no período. Repare como o risco é muito mais alto para estas ações. Somente como base de comparação, a volatilidade das ações da Itaúsa no período ficou em 51,7 por cento ao ano.

 

Alavancagem

No caso de Cogna alguns investidores operaram derivativos (opções) de curto prazo, que têm uma volatilidade ainda maior. Além disso, alguns investidores venderam (lançaram) opções e ficaram expostos à alavancagem.

Basicamente alavancagem é quando você arrisca mais dinheiro do que a sua posição/investimento inicial. Gosto de dar um exemplo de um casino: o apostador entra com 100 dólares, mas por meio de operações alavancadas acaba arriscando mais que o capital inicial nas operações.

 

Tamanho da posição e risco das ações

Segundo o investidor de valor Joel Greenblatt: “Minhas maiores posições de ações não são as que eu acho que vou ganhar mais dinheiro e sim aquelas que eu acho que eu não vou perder dinheiro”.

 

Ajustando o tamanho da posição

Voltando ao caso do meu amigo Ari que eu supus que tivesse 10 por cento do seu patrimônio em ações da Oi. Após a alta das ações, a posição de Oi aumentou para 15 por cento da carteira de ações e, portanto, seria necessário apenas vender 1/3 (5 por cento) das ações da Oi para que a posição voltasse ao patamar inicial da 10 por cento do portfólio.

Por último, eu ressalto que cada investidor tem um perfil e um nível de tolerância ao risco. Assim, a participação dos ativos “especulativos” na carteira ou o tamanho do bolso da aposta/trading depende de cada investidor. A minha recomendação é que esse bolso nunca ultrapasse a marca dos 5 por cento do patrimônio.

 

Eu te disse, Ari

Para terminar a coluna deixo aquela mensagem para o meu amigo Ari caso ele não tenha ouvido isto o suficientemente de sua esposa: “eu te disse”.

Como mensagem final, quero te convidar para escutar o podcast Fora da Caixa, que faço ao lado do analista Murilo Breder, meu colega aqui da Levante.

A ideia do programa semanal é trazer profissionais do mercado financeiro para falar sobre investimentos e, claro, deixar uma ideia ‘fora da caixa’ aos ouvintes.

O convidado da edição desta semana é o economista Fernando Ulrich. Nossa conversa foi longe: falamos de ouro, bitcoin (tem louco para tudo…), Urânio e até a Teoria do Milkshake do Dólar.

Vale acompanhar o papo. Clique aqui para ouvir este e os outros 21 episódios do Fora da Caixa.

Abraços,
Eduardo Guimarães

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