Na coluna de hoje eu vou falar sobre o excesso de liquidez mundial e o fluxo de recursos para os ativos de risco, notadamente os da renda variável, nos mercados emergentes e em especial no Brasil.
Acredito que o fluxo de recursos para o mercado de ações vai continuar bastante positivo no mundo em 2021, devido ao excesso de liquidez, ao menor nível de aversão ao risco e ao patamar baixo de taxas de juros.
O Ibovespa começou 2021 em forte alta, em patamar próximo dos 124 mil pontos na última sexta-feira (8/jan). Continuo a acreditar que o cenário é bem otimista para a bolsa de valores, impulsionado pela alta das commodities (minério de ferro e petróleo) e ampla liquidez mundial, apesar do risco fiscal das contas públicas no mercado doméstico.
Como diria um grande amigo meu: o que Governo precisa fazer esse ano é somente não bater o pênalti na torcida no que se refere ao déficit público e ao crescimento da dívida pública. Se o Governo “não chutar o balde do pau da barraca” e mantiver o teto dos gastos públicos, o fluxo de recursos de investidores estrangeiros virá para o Brasil.
Entrada de recursos nas bolsas de valores dos mercados emergentes
De acordo com o Instituto de Finanças Internacionais (IIF), os mercados acionários dos países emergentes receberam 29,3 bilhões de dólares em dezembro, dos quais 13,2 bilhões para a Ásia e 11,9 bilhões para a América Latina.
Considerando todos os ativos, houve entrada de 45,9 bilhões de dólares em dezembro para os mercados emergentes, com um total de 313 bilhões em 2020, 48 bilhões de dólares abaixo do resultado de 2019.
Gringo voltando para a B3
O fluxo de investidores estrangeiros na B3 no mercado secundário bateu recorde em dezembro e atingiu 19,7 bilhões de reais, o segundo maior aporte mensal em toda a série histórica iniciada em 1996. O mês de novembro foi o de maior fluxo de entrada de estrangeiros na B3: 33,3 bilhões de reais.
O saldo dos investidores estrangeiros ficou negativo em 31,8 bilhões de reais em 2020, uma saída menos intensa do que os 44,5 bilhões de reais de 2019, e bem melhor que nos momentos de maior fuga de capitais no ano em que o saldo chegou a ficar negativo em 89 bilhões de reais.
As ofertas de ações e aberturas de capital (IPOs) receberam 19,6 bilhões de reais em de investidores estrangeiros em 2020 (até setembro). Dessa forma, ao considerar o mercado primário e secundário, o saldo de recursos de investidores estrangeiros na B3 encerrou 2020 negativo em apenas 12,2 bilhões de reais.
Fim da cultura do CDI
Com o fim da cultura do CDI, com taxa de juros (Selic) em 2 por cento ao ano, acredito que iremos encerrar 2021 com mais de 5 milhões de pessoas físicas (CPFs) na B3, comparado ao número atual de pouco mais de 3,2 milhões de investidores em dezembro de 2020.
Somente como comparação: número de 1,68 milhão de investidores em dezembro de 2019, crescimento de 1,5 milhão de CPF’s em apenas 12 meses (média de 125 mil investidores entrando na Bolsa todo mês).
Acredito que esse movimento deverá continuar e acredito que o percentual da população que investe em ações poderá chegar no patamar de 2,5 a 3 por cento.
Fundos de investimento em ações
Eu acredito que o fluxo positivo de recursos para investimento em ações está apenas começando e deverá crescer bastante em 2021.
A captação líquida de recursos nos fundos de investimento em ações acumulou 69,3 bilhões de reais em 2020, com saldo de 607,2 bilhões em dez/20, equivalente a 10,1 por cento do total de recursos em fundos de investimento (9,1 por cento em dez/19).
Fazendo uma conta rápida, eu estimo que o aumento do fluxo de recursos para fundos de investimento em ações no mercado local pode chegar a 110 bilhões de reais em 2021. É uma estimativa conservadora na minha opinião, pois os fundos de ações ainda representariam menos de 12 por cento do total de fundos.
Somente como comparação, a poupança encerrou 2020 com captação líquida de 166,3 bilhões de reais e saldo recorde acima de um trilhão de reais. Foi quase o triplo da captação e um pouco menos que o dobro do montante total de recursos investidos em fundos de ações.
Pessoas físicas dominando a Bolsa
Os investidores pessoa física retiraram capital da bolsa em novembro e dezembro (3,8 bilhões de reais), mas em 2020 o saldo ficou positivo em 51 bilhões de reais.
Histórias para contar
Para terminar irei contar uma história de quando eu era analista de research (sell side) em grandes corretoras de bancos de investimentos onde trabalhei (Fator, Bes).
Parte do trabalho sempre foi dar entrevistas para a imprensa sobre as notícias do mercado e principalmente das empresas, com os impactos e o comportamento das ações na Bolsa.
A pergunta clássica sempre era: “Eduardo, porque determinada ação está subindo mais de 10 por cento hoje? “.
Eu sempre começava a minha resposta assim: “A ação está subindo 10 por cento porque tem muito mais comprador que vendedor”.
Nem sempre o comportamento das ações está ligado aos fundamentos da empresa, mas muitas vezes está ligado ao fluxo de recursos.
Contra fluxo não há argumentos
Acredito que o que define a trajetória de alta ou de baixa de uma determinada ação – ou da bolsa como um todo – é o fluxo de dinheiro que entra no mercado ou que sai dele.
Os fundamentos podem estar ótimos, as perspectivas podem ser muito promissoras, os papéis podem estar cotados a preços convidativos. Se não houver um movimento consistente de compra, eles não se valorizam. E o inverso também é verdadeiro. As cotações podem parecer supervalorizadas. Havendo mais compradores que vendedores, os preços continuam subindo.
Conclusão
Eu acredito que 2021 vai ser positivo para o mercado de ações devido a três fatores principais: i) recuperação de economia; ii) crescimento do lucro das empresas e; iii) fluxo de recursos para a Bolsa, tanto local quanto de investidores estrangeiros.
Desejo a todos um Excelente Ano Novo em 2021 com muitos lucros e visão de longo prazo!
Obrigado e um grande abraço.
Eduardo Guimarães