Uma combinação de fatores tem reforçado a expectativa não só de início do corte dos juros, mas também de um corte maior da Selic na reunião do Copom da próxima semana. Em vez de 0,25 já pode vir um corte de 0,50. A aposta cresceu, principalmente, depois de a agência Fitch elevar o rating soberano do Brasil de BB- para BB, com perspectiva estável. O Brasil ainda está longe de retomar o grau de investimento, o selo de bom pagador. Mas é um voto de confiança importante em relação ao avanço de pautas como o arcabouço fiscal e a reforma tributária e o impacto que podem ter no andamento da economia, inclusive do lado fiscal. Uma condição que pesa na definição da política monetária. E a Standard & Poor’s já tinha dado sinalização parecida, ao colocar a nota do País em perspectiva positiva, o que não ocorria desde 2019.
Essa melhoria de avaliação é um sinal que o Brasil pode estar no caminho certo para colocar a economia nos eixos, embora ainda seja um caminho longo. Vale lembrar que o arcabouço ainda tem de ser aprovado pela Câmara, após as exceções ao limite de gastos incluídas no projeto pelo Senado. E o Senado terá de aprovar a Reforma Tributária aprovada, com urgência, pela Câmara, deixando muitas dúvidas quanto às mudanças na tributação do consumo e possíveis impactos. E também vale destacar a observação da Fitch quanto às tentativas do governo, de Lula, de desviarem da agenda liberal, com propostas por mais gastos e retrocessos em avanços, que devem continuar sendo contidas. A melhoria da avaliação do País é um voto de confiança também nesse sentido e, mesmo não declarada, pode ter relação até com a postura do ministro Haddad e demais integrantes da equipe econômica.
De qualquer modo, do ponto de vista da política monetária, a posição das agências minimiza, em princípio, um dos problemas que podem comprometer a flexibilização, que são as desconfianças do lado fiscal.
Mas não é só isso. O fator mais relevante, que é o comportamento da inflação, também vem garantindo um cenário mais propício para os cortes dos juros. O IPCA 15 de julho, prévia da inflação oficial, recuou 0,07%, queda mais intensa que se previa e com uma composição melhor: variações negativas de vários grupos de preços e desaceleração de núcleos de Serviços, um dos focos de resiliência dos aumentos de preços. A variação em 12 meses caiu para 3,19%, abaixo do centro da meta, que é 3,25%. A inflação prevista para o ano, segundo o Focus, é maior – 4,90% – mas vem em queda há um bom tempo, com cortes também das projeções para os próximos anos. Enfim, está havendo maior convergência das projeções para as metas. Sendo que a nova política de metas torna esse movimento de convergência menos urgente. O horizonte da meta já não é mais o ano calendário, mesmo mantendo uma meta mais baixa, de 3% para os próximos anos.
Fechando o cenário para o corte dos juros, ainda temos um fator não muito favorável em termos de andamento da economia, que foi a perda de ritmo da atividade em maio, com queda das vendas do comércio, pelo IBGE, com o IBCBr e o Monitor do PIB-FGV apontando possível retração do PIB. Entre os aspectos que reduzem o potencial de pressões inflacionárias decorrentes da demanda vale incluir o endividamento e a inadimplência elevados, em boa parte consequências da manutenção de juros altos. O que também tem influenciado o aumento dos pedidos de recuperação judicial e falências das empresas.
Todos esses fatores aumentam, inclusive, a pressão política para o início do corte dos juros. A decisão tem de ser técnica. Mas a resistência em manter uma política mais austera, que na prática tem levado ao aumento dos juros reais, com todos esses fatores citados, pode ter desdobramentos. Hoje se vê cobranças por parte de empresários dos vários setores, economistas e políticos, até mesmo os que são contrários ao governo, que ainda lidera as reclamações. Até o mercado já tem incorporado na curva de juros a perspectiva de taxas menores.
No contexto externo, o Federal Reserve também vem mostrando preocupações com o impacto da política de juros sobre a atividade, ainda que a inflação acima da meta e a robustez do mercado de trabalho ainda possam recomendar apertos adicionais, além da alta de 0,25 ponto decidida nesta semana, com as taxas indo para 5,25 e 5,5%, maior nível desde 2001. O FOMC em comunicado, destacou que continuará monitorando as implicações das perspectivas econômicas e, caso surjam riscos que possam impedir o alcance das metas, estará “preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado”.
Agora é aguardar a decisão e o comunicado do Copom da próxima semana, para ver o quanto que o atual cenário pode mesmo influenciar os futuros passos da política de juros. Detalhe: será a primeira reunião com nova composição do Comitê, principalmente com a presença de Gabriel Galípolo, ex-secretário do Ministério da Fazenda, que endossava as preocupações com os impactos da manutenção de uma política mais austera por tanto tempo.
E, na verdade, não se conta com processo mais acentuado de redução da Selic. A previsão é que feche o ano entre 11,75% e 12,5%, dependendo do nível de otimismo quando ao andamento da economia, podendo chegar aos 9% em 2024. Levando-se em conta a previsão de inflação mais baixa, a queda, até em termos reais, não será tão significativa assim. Mas, sem dúvida, pode dar um oxigênio maior para a economia, especialmente via expectativas, que favorecem o alívio do crédito, do endividamento, da inadimplência e as tomadas de decisões de investimentos empresariais.