A semana se inicia com um momento dedicado ao pragmatismo. Durante vários meses, essa entidade conhecida como mercado considerou garantido o compromisso do governo com a disciplina fiscal e com a estabilidade das contas públicas. Qualquer movimento de Brasília diferente disso vinha sendo creditado aos desvios pontuais decorrentes do combate à pandemia. Não fosse o coronavírus, era o raciocínio, tudo estaria na mais perfeita ordem.
No entanto, a decisão do governo da quinta-feira (21) de realizar algumas manobras contábeis para pagar um auxílio emergencial mais robusto acabaram com essa percepção. É fato que, pela fria letra da lei, o teto de gastos não será rompido.
Porém, na ponta do lápis, o governo vai gastar mais do que o esperado, e isso terá consequências sobre a economia e sobre os resultados das empresas.
Como seria de se esperar, as expectativas para inflação, juros e economia já mudaram, como mostra a edição mais recente do Relatório Focus. Mais do que isso, frustrou-se uma expectativa que vinha sendo acalentada pelos investidores de que o governo estaria imune à tentação de abrir os cofres para obter vantagens políticas.
A política é a arte do possível e, dentre as atividades humanas, é a que está mais longe do ideal. Por isso, essa decisão não deveria ser inesperada para quem acompanha o dia a dia das articulações políticas.
Mesmo assim, gerou-se uma expectativa entre uma parcela relevante dos investidores de que desta vez seria diferente. Não foi, e será preciso inserir esse dado nas novas avaliações de preço.
Não é o fim dos tempos. Será apenas mais uma dentre tantas correções de rota. E nunca é demais lembrar: há dezenas de oportunidades e estratégias vencedoras. Basta encontrá-las.
Relatório Focus
A volatilidade da semana passada alterou os prognósticos para inflação, juros e crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano e no próximo, segundo a edição mais recente do Relatório Focus, divulgada pelo BC (Banco Central) nesta segunda-feira.
Para este ano, a projeção de inflação avançou para 8,96%, ante 8,69% da semana passada. A projeção de variação do IPCA prevista para 2022 subiu para 4,40% ante 4,18%.
A taxa de juros esperada para o fim do ano também subiu. A projeção de 2021 foi para 8,75% ante 8,25%. A de 2022 subiu de 8,75% para 9%.
E pela primeira vez no ano as projeções de crescimento da economia recuaram. O PIB esperado caiu de 5,01 para 4,97% neste ano, e o de 2022 recuou para 1,40% ante 1,50% na semana anterior.
Indicadores
O IPC-S da terceira quadrissemana de outubro de 2021 variou 1,05% e acumula alta de 10,03% nos últimos 12 meses, informou a Fundação Getulio Vargas.
Houve desaceleração nos reajustes em três das oito classes de despesa componentes do índice. A variação no grupo Educação, Leitura e Recreação caiu para 3,13% ante 4,62% na segunda quadrissemana de outubro de 2021. A variação dos preços das passagens aéreas recuou para 20,44% ante 30,57% na edição anterior.
E Eu Com Isso?
A semana começa com uma leve alta dos contratos futuros do índice americano S&P 500 devido às expectativas positivas com os resultados trimestrais das companhias americanas.
Nesta semana estão previstos os números de gigantes da tecnologia e de empresas que respondem por 25% do S&P 500.
Por aqui, os contratos futuros do Ibovespa começam o dia em alta, numa correção após as fortes quedas da semana passada.
As notícias são positivas para a Bolsa em um cenário de volatilidade.
—
Este conteúdo faz parte da nossa Newsletter ‘E Eu Com Isso’.
—