É comum nas noites de domingo, após uma sequência de lautas refeições durante o fim de semana, olhar-se no espelho e prometer solenemente “amanhã eu começo meu regime”. Esse é um bom paralelo com as conclusões das minutas do Fomc (Federal Open Market Committee), o Copom americano, divulgadas na tarde da quarta-feira (13) pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos.
Com a diferença que as promessas de domingo à noite tendem a ser convenientemente esquecidas na segunda-feira, ao passo que a decisão do Fed de “emagrecer” (ou seja, reduzir o próprio balanço) deve ser levada a termo com disciplina.
O relatório da reunião diz que os 18 membros do Fomc, com ou sem direito a voto, concordaram que devem começar o processo de desaceleração da compra de ativos iniciado em abril passado como uma resposta à pandemia.
Atualmente, o Fed compra todos os meses US$ 120 bilhões em títulos, sendo 80 bilhões em títulos públicos e 40 bilhões em ativos hipotecários.
Pela proposta, em novembro ou em dezembro esse montante será gradativamente reduzido em 10 bilhões para os títulos públicos e em 5 bilhões para os títulos hipotecários. Assim, em junho ou em julho de 2022 as compras estarão encerradas.
“Os membros do Comitê em geral avaliaram que, desde que a recuperação econômica permanecesse amplamente no caminho certo, uma redução gradual concluída em meados do próximo ano seria apropriada”, diz a ata, na linguagem cautelosa dos bancos centrais.
A justificativa foi a crescente preocupação com a inflação. Na manhã da quarta-feira, bem antes da divulgação da ata, o BLS (Bureau of Labor Statistics) divulgou que a inflação ao consumidor em setembro havia sido de 0,4%, acima dos 0,3% registrados em agosto.
Os preços dos alimentos subiram 0,9%, a maior alta desde abril do ano passado, após terem avançado 0,4% em agosto. Em 12 meses, a inflação acumulada para o consumidor americano está em 5,4% ante 5,3% nos 12 meses até agosto.
A ata mostrou que os membros do Comitê estão preocupados se a inflação, que era vista como um fenômeno passageiro, pode estar se transformando em algo estrutural. Até então, o consenso no Comitê era que a oferta de mão de obra em breve retornaria aos níveis de 2019, o que reduziria a pressão sobre os custos do trabalho e sobre os índices de preço.
Mesmo assim, a opção por desacelerar a expansão monetária mostra que o Fed está fazendo hedge, buscando uma proteção para o caso de os dados contrariarem suas expectativas.
Apesar de a ata não tratar claramente do assunto, é um consenso entre os investidores que o Fed está buscando reduzir seu próprio balanço. Desde o início da pandemia, as aquisições de títulos públicos, hipotecários e também de créditos privados provocaram um sobrepeso no banco central americano. Antes da pandemia, seus ativos estavam ao redor de US$ 4,2 trilhões.
O dado mais recente indica que essa cifra inflou para US$ 8,5 trilhões. Esse “sobrepeso” do Fed acaba injetando dinheiro demais na economia americana, provocando desequilíbrios nos preços dos ativos. Daí a importância de o Fed iniciar um saudável processo de emagrecimento.
E Eu Com Isso?
A retirada da incerteza sobre o processo de redução das compras de títulos pelo Fed manteve os investidores otimistas, com altas nos contratos futuros do Ibovespa e do índice americano S&P 500 nesta manhã.
As notícias são positivas para a bolsa.
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