Na noite desta segunda-feira (26), a Vale divulgou seus resultados do 1T21, após o fechamento de mercado. O resultado foi bom, mas já era esperado, pois a companhia já havia divulgado o seu resultado operacional. No entanto, chamou a atenção a sólida geração de caixa.
Como já adiantado na prévia operacional (produção e vendas), os volumes de vendas totais foram significativamente superiores aos do 1T20, além dos preços médios realizados próximo ao dobro do realizado no ano anterior.
A combinação de maiores preços e menores custos relativos pela retomada de plantas e maiores volumes de produção, permitiram à Vale gerar um Ebitda (métrica da geração de caixa operacional) de 8,35 bilhões de dólares, já com os efeitos de Brumadinho inclusos, cerca de 178 por cento superior ao 1T20.
Mas o principal destaque do resultado fica com a geração de caixa livre da companhia no trimestre, ficando quase 1 bilhão de dólares superior ao 4T20, alcançando 5,85 bilhões de dólares, mesmo com volumes de vendas menores comparativamente, devido aos melhores preços, menor necessidade de investimento e menores gastos com contingência relativos à Brumadinho.
O lucro líquido ficou em 5,5 bilhões de dólares, uma alta forte de mais de 10 vezes o montante do 4T20, devido ao provisionamento de quase 5 bilhões de dólares e uma baixa de ativos significativo (impairment) que afetou o resultado contábil do 4T20, o que não ocorreu neste trimestre.
A companhia realizou o pré-pagamento de bonds (dívidas emitidas no mercado externo) no valor de 750 milhões de Euros, além do desembolso robusto de 3,88 bilhões de dólares em dividendos, utilizando o forte caixa gerado nas operações neste trimestre.
E Eu Com Isso?
Apesar do resultado da Vale já estar no preço das ações, esperamos uma reação positiva adicional no preço das ações (VALE3) no curto prazo, não somente pela robusta geração de caixa, mas também pela continuidade da alta de preços de minério por mais um período à frente, retomada do volume de vendas, sem o efeito sazonal típico do primeiro trimestre e prêmio de preço sobre o minério de maior concentração de ferro, no qual a Vale vende em grande quantidade.
Os resultados poderiam ter sido melhores caso não houvesse um efeito negativo do mecanismo de precificação da companhia, no qual fixou preços menores que a média do trimestre para as vendas realizadas, devido à maior participação de contratos de venda com precificação na modalidade “Defasada” ao invés do “Corrente”. A modalidade “Defasada” corresponde à precificação utilizando como base os três últimos meses, com um mês de atraso em relação ao mês atual, ou seja, neste caso, contando até fevereiro, com a rápida subida de preços em março ajudando a dar uma contribuição para baixo em relação aos preços médios do trimestre.
Porém a geração de caixa foi surpreendente, mesmo já sabendo que a companhia teria uma menor necessidade de investimentos e desembolsos operacionais devido à sazonalidade e volume de produção. O retorno sobre o fluxo de caixa (FCF yield) anualizado é de 22 por cento.
A companhia encontra-se em patamar diferente do último superciclo de commodities. Desta vez ela possui um maior volume de produção, minério de melhor qualidade e necessidade baixa de investimentos que, combinados com o baixo nível de endividamento (dívida líquida expandida de apenas 10 bilhões de dólares), o que possibilita em uma farta distribuição de dividendos.
Há certa preocupação com a trajetória dos preços do minério de ferro em um futuro próximo devido às restrições de produção impostas na China devido a questões ambientais, além da impressão de preços em patamares insustentáveis, o que dá a impressão de que a bonança está em seu pico.
Mas há ainda fatores nos quais acreditamos que podem sustentar por mais tempo os preços elevados do minério de ferro: i) o mercado de aço fora da China segue em aquecimento, com a retomada da economia nos EUA e Europa, sobretudo no segmento industrial, impulsionando o consumo de aço; ii) restrições do fornecimento de carvão australiano à China, elevando os preços do carvão, dando maior preferência à minérios de alta qualidade, com a indústria mirando a produtividade; iii) maior destinação de aço produzido para o mercado doméstico ao invés da exportação na China, sustentando os elevados preços do aço internacional e, em consequência, estimulando a siderurgia a produzir, mantendo os altos preços do minério de ferro por mais tempo.
Em adição há uma participação cada vez maior de carros elétricos e investimento em infraestrutura voltado à tecnologia, o que demanda metais básicos como níquel e cobre, sustentando os resultados do segundo segmento mais relevante da Vale.
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