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Gabinete Anticaos – Ep. 20

Olá, investidores.

Tudo bem?

No episódio de hoje do Gabinete Anticaos, vamos falar mais sobre o conceito de risco e sobre como diminuí-lo por meio do processo de diversificação da carteira.

“Não é para ser fácil. Quem pensa que é fácil é estúpido.” – Charlie Munger

Verdade seja dita: não são todas as pessoas que têm o que é preciso para se tornar um grande investidor. Alguns princípios podem ser ensinados, mas nem todos.

Claro que, no limite, todo mundo consegue obter um investimento mediano – basta investir em um ETF que replique um bom índice. Contudo, para bater o mercado e se tornar um investidor de sucesso, é preciso ir além.

Ainda, para batê-lo, depender da sorte não é a melhor escolha, apesar de ser bom que ela esteja ao seu lado. Então, o único caminho é estar à frente do mercado em sabedoria, experiência e senso de valor, tendo sempre a cabeça no lugar.

Como os grandes players do mercado são, hoje em dia, pessoas bem informadas e devidamente computadorizadas, você precisa encontrar uma vantagem que eles ainda não tenham. É preciso pensar no que ainda não foi pensado.

Por exemplo:

  • À primeira vista, alguém pode dizer: “É uma boa empresa, vou comprar suas ações.” Mas isto não é pensar acima da média. Pensar um nível acima significa dizer: “É uma boa companhia, mas todo mundo a acha excelente, e isto ela não é. Logo, a ação está superestimada e supervalorizada; vou vendê-la.”
  • À primeira vista, alguém pode dizer: “O cenário é de baixo crescimento. Vou parar de investir em ações.” Pensar um nível acima seria: “O cenário é de fato muito ruim, mas todo mundo está vendendo no pânico. Vou comprar!”
  • À primeira vista, alguém pode dizer: “Eu acho que o lucro da empresa vai cair; então, vou vender suas ações.” Aquele que pensa um nível acima, porém, diz: “O lucro da empresa vai cair menos do que o mercado espera. Então, esta surpresa fará as ações subirem: vou comprá-las!”

Os primeiros pensamentos de cada tópico, à primeira vista, são simplistas e superficiais, e quase todo mundo consegue tê-los. Entretanto, o pensamento um nível acima é profundo e complexo.

Os que pensam de forma rasa procuram fórmulas de sucesso e respostas fáceis. De modo diferente, os que pensam um nível acima sabem que, para se obter sucesso, deve-se fazer o contrário de simples.

Para alcançar retornos acima da média, é preciso ter visões fora do consenso; e, claro, elas precisam estar certas. Isto não é algo fácil de se fazer.

Quantos ativos devo ter em carteira?

Antes de chegar à resposta mágica, é preciso entender dois conceitos importantes: risco sistemático e risco não sistemático. Você só consegue diversificar, de fato, um deles.

O risco total de um ativo – ou de uma carteira – é comumente medido pelo desvio-padrão e pode ser subdividido em duas partes:

  • Risco sistêmico, de mercado ou conjuntural: é o risco não diversificável. Consiste no risco imposto a um determinado ativo pelos sistemas econômico-social e político.
  • Risco não sistêmico, não sistemático ou próprio: consiste no risco intrínseco ao ativo; é gerado por fatos que atingem diretamente o ativo em estudo ou o setor ao qual tal ativo está conectado. É também chamado de risco diversificável.

Como se observa, a diversificação de ativos reduz o risco não sistêmico, mas não o sistêmico. O risco total só consegue ser diluído até um limite: o risco de mercado.

Levante Ideias - Gabinete Anticaos

A teoria foi comprovada na prática. A figura abaixo mostra o efeito da diversificação. Para isto, ela utiliza dados sobre ações da Bolsa de Nova York (NYSE). Vale a pena ressaltar que o efeito positivo da diversificação continua o mesmo independentemente do país.

Levante Ideias - Gabinete Anticaos

Na mesma linha do estudo acima, vários outros estudos também provaram que o risco não sistêmico pode ser reduzido significativamente com carteiras contendo apenas entre 10 e 15 ações.

 

“Risco significa que mais coisas podem acontecer do que vão acontecer.” – Elroy Dimson

Especialmente em épocas de bull market, a maioria das pessoas subestima o risco ao dizer que “mais risco equivale a mais retorno” e que “se você quiser ganhar mais dinheiro, é preciso correr mais risco.” Ambas as afirmativas não representam verdades absolutas, nem mesmo por definição. Afinal, se investimentos mais arriscados produzissem de fato mais retorno, então, por definição, eles não seriam arriscados.

O jeito correto de reformular esse pensamento seria o seguinte: “Investimentos mais arriscados tendem a prometer maiores taxas de retorno. Mas isso não significa que estes retornos se materializarão.”

Investimentos mais arriscados são aqueles cujos retornos são menos previsíveis. Ou seja, a distribuição probabilística (desvio-padrão) é maior.

Ou seja, quando você investe em algo mais arriscado, a sua expectativa de retorno é maior, mas existe também a possibilidade de ganhar abaixo do esperado – ou mesmo de perder dinheiro.

Levante Ideias - Gabinete Anticaos

Existem investidores experientes e existem investidores arrojados, mas não existem investidores experientes e arrojados

Em um jogo profissional de tênis, vence quem tem mais bolas vencedoras (winners), aquelas tão rápidas e certeiras que o oponente não consegue alcançar. Jogadores profissionais de tênis treinam para conseguir jogar de qualquer forma, em qualquer tipo de quadra, para bater com a esquerda ou com a direita, com força ou com efeito. Eles não sofrem no mesmo nível dos amadores quando se deparam com ventos contrários a seus arremessos, sol no rosto e limitações de velocidade e fôlego. Profissionais conseguem alcançar quase todas as bolas enviadas a eles, devolvendo-as, até mesmo, do jeito que eles quiserem. Tanto que, quando eles erram, as estatísticas do jogo são chamadas de erros “não forçados”.

Entretanto, o tênis que a maioria de nós, amadores, jogamos é um jogo em que se ganha quem erra menos. A nossa preocupação é passar a bola para o outro lado e aguardar o erro do adversário.

Da mesma forma, a economia e os mercados são altamente imprecisos e oscilantes, e a forma de pensar dos outros jogadores constantemente altera ainda mais esse ambiente. Ainda que você faça tudo certo, os outros investidores podem ignorar a sua ação favorita; a governança corporativa pode acabar com as oportunidades de crescimento da companhia escolhida por você; o governo pode mudar as regras; ou é possível, até mesmo, que uma catástrofe natural/biológica – como a que estamos presenciando atualmente – aconteça.

Ainda nessa linha, é possível termos outro bom exemplo comparando o futebol americano com o nosso futebol. No americano, existe um time diferente para atacar e outro para defender. Contudo, no mundo dos investimentos, é muito raro saber quando trocar os times. Ademais, você não tem intervalos e/ou pedidos de tempo para pensar – como acontece nos jogos do futebol americano.

Investir em ações é mais como o nosso futebol. No mínimo 8 dos 11 jogadores que começaram a partida jogarão até o fim (a menos que alguém tenha sido expulso). Não existe um time de ataque e outro de defesa, como no futebol americano. São os jogadores que estão em campo que precisam, ao mesmo tempo, marcar e fazer gols.

O técnico decide se o time deve priorizar o ataque ou a defesa. Como os técnicos só possuem três alterações à disposição, a escalação inicial precisa ser a mais ideal possível.

Da mesma forma, são pouquíssimos os investidores que conseguem trocar de tática “com a bola rolando”. Por isso, o ideal é que os investidores entrem em campo com um time preparado para lidar com os mais diferentes tipos de cenários. Você pode priorizar o ataque, a defesa ou equilibrar os dois.

O “técnico” Howard Marks tem clara preferência por um time defensivo. O portfólio da sua gestora, a Oaktree Capital Management, é pensado para performar em linha com o mercado quando tudo vai bem e para cair bem menos que o mercado quando tudo vai mal. Dessa forma, ele garante resultados acima da média durante todo o ciclo e mantém baixa, ao mesmo tempo, a volatilidade da carteira.

Não existe escolha correta entre ataque e defesa. Vários caminhos podem te levar ao sucesso; assim, suas escolhas devem ser pensadas em função da sua personalidade e da sua aprendizagem ao longo do caminho.

A quantidade de risco a que um investidor deve ficar exposto deve ser pensada em função do retorno que ele almeja obter. A quantidade de segurança que você deve ter precisa ser baseada no quanto de perdas você aceitaria ter. É uma questão de trade-off.

O que os grandes gestores estão fazendo?

Antes de prosseguirmos, é válido fazer uma observação: os fundos, por terem sob gestão centenas de milhões (alguns até bilhões) de reais, não têm a mesma flexibilidade que um investidor pessoa física tem. Por isso, eles naturalmente acabam diversificando em mais ações.

Antes da crise, a maioria dos fundos de ações tinha posições grandes em papéis específicos. Por isso, quando as fortes quedas começaram, alguns gestores de ações começaram a vender algumas ações com o objetivo de reduzir o tamanho da posição, que antes chegava a 15 por cento, aceitando perdas para diminuir o risco da carteira.

Com o caixa gerado pela redução da concentração, os grandes gestores estão aproveitando a promoção e entrando nos papéis que eles julgam estarem baratos neste momento.

Entretanto, o contra intuitivo é que, ao utilizarem seus caixas, o que, à primeira vista, significaria aumentar o risco, eles estão, na verdade, aumentando o número de ações em carteira, diminuindo assim o risco via diversificação. Por isso, muitos fundos que antes tinham em torno de 15 ações hoje possuem entre 20 e 30.

Atualmente, outra estratégia adotada pelos gestores é a de manter o plano inicial. Ou seja, não alavancar para tentar forçar uma recuperação rápida quando ela vier.

Conclusão

Acreditamos que a diversificação de ativos em uma carteira de investimentos é muito importante para os investidores, ainda mais em um momento com o atual – de maior incerteza no mercado.

É necessário adequar a carteira de ativos ao perfil de risco, ter visão de longo prazo e, principalmente, não fazer nada em momentos de pânico.

O momento é o de avaliar o perfil de risco dos investimentos e fazer algumas mudanças com parcimônia, indo às compras no mercado, mas sempre mantendo uma segura reserva de liquidez/emergência.

Até breve,
Equipe Gabinete Anticaos

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