Fazendo contas

O fim da cultura do CDI

A taxa de juros no Brasil está no nível mais baixo da história: 6,75% ao ano. Essa mesma taxa (Selic) ficou em 14,25% de julho de 2015 até agosto de 2016. Em 18 meses, a tesoura do Banco Central cortou os juros brasileiros em 7,5%, a taxa caiu de 1,12% ao mês para 0,55% ao mês em março de 2018, o que abriu caminho para o fim da cultura do CDI.

Alguns economistas de bancos já projetam mais um corte de 0,25% na taxa Selic para 6,5% ao ano (0,53% ao mês) no dia 21 de março.

Leia mais: Quais as melhores opções de investimentos para o curto prazo?
– Faça os juros baixos trabalharem a seu favor
– Accountability: uma tradução necessária

Segundo a previsão do relatório Focus do Banco Central, a taxa Selic deve ficar estável em 2018 (6,75% ao ano) e subir em 2019 para 8% ao ano (0,64% ao mês).

O fim da cultura do CDI: o que isso quer dizer?

O fim da cultura do CDI quer dizer que o dinheiro aplicado no banco em juros pós-fixados (CDI) agora rende muito menos do que antes.

E o que você, investidor, tem a ver com isso? Como investir agora? Ideias? Pois nós temos.

Você deveria se preocupar com o rendimento das suas aplicações financeiras a partir de agora, porque, como diria a música do Roberto Carlos, “Daqui pra frente tudo vai ser diferente”.

O Brasil já teve taxa de juros baixos em duas ocasiões: 7,25% ao ano em out/2012 e 8,75% a.a. em set/2009. Entretanto, nessas ocasiões o Governo brasileiro reduziu os juros “na marra” e depois o Banco Central teve que ajustar as taxas e o povo brasileiro pagou a conta com inflação alta.

Mais uma vez eu recorro ao Rei Roberto Carlos para falar da taxa de juros baixa: “Eu voltei agora para ficar… porque aqui, aqui é o meu lugar”.

A economia brasileira sempre foi muito indexada e atrelada à taxa de juros (CDI) desde a época do “overnight” nos tempos da hiperinflação.

Assim, o rendimento das aplicações financeiras sempre foi analisado em relação ao benchmark, ou base de comparação, que sempre foi o CDI.

Portanto, o investidor brasileiro nunca pensou no retorno do seu portfólio de investimentos em termos absolutos ou em termos reais (descontada a inflação). As aplicações financeiras tradicionais de renda fixa (CDB’s de bancos, fundos de investimentos e títulos públicos) sempre tiveram o seu desempenho medido em relação ao CDI (% do CDI).

O brasileiro ficou acostumado com “número mágico” de 1% ao mês de rendimento da renda fixa (ex: aluguel, etc). Como a taxa de juros era alta, o rendimento era alto com baixo risco.

Era um mundo “mágico” de alta liquidez, rendimento alto e com baixo risco.

O investidor agora precisa escolher entre rendimento e risco para aprender como investir em ações.

“Seguro morreu de velho”

O lado perverso da alta taxa de juros sempre foi à visão de curtíssimo prazo dos aplicadores em relação aos investimentos, pois não valia a pena correr mais risco comparado ao alto rendimento da taxa de juros com baixo risco (taxa Selic de 26,5% em 2003).

Essa visão de curto prazo dos investidores explica o investimento baixo em ativos financeiros com prazo mais longo, como, por exemplo, renda variável (ações). Atualmente, apenas 5% dos recursos totais de fundos de investimentos no Brasil estão aplicados em ações (segundo dados da Anbima), o nível mais baixo da história.

Acreditamos que a “cultura do CDI” está chegando ao fim e o seu impacto no rendimento das aplicações financeiras será muito grande!

Para simplificar, iremos usar exemplos numéricos para explicar o impacto no bolso do nosso leitor:

R$ 100 mil aplicados num CDB de um grande banco (com taxa equivalente a 100% do CDI) teria rendimento (bruto de imposto de renda) de R$ 14.250 durante o ano todo de 2016 (CDI de 14,25%). Com a taxa Selic a 6,75% ao ano, o mesmo rendimento bruto seria reduzido para R$ 6.750, quase metade do rendimento de 2016.

E agora? O que fazer?

Com o fim da cultura do CDI, para se chegar ao mesmo rendimento de 2016, será necessário correr mais risco. Em resumo: aumentar exposição a ativos de maior risco. Neste cenário, é fundamental aprender como investir em ações.

A boa notícia é que as condições para a economia no Brasil nunca foram tão favoráveis: temos um time dos sonhos na equipe econômica (Banco Central, Ministro da Fazenda) e o ambiente externo favorável com baixa aversão ao risco e alta liquidez global.

Deixando um pouco de lado as questões políticas (reforma da Previdência, eleições presidenciais em 2018), as perspectivas de longo prazo são positivas com um descolamento da economia da política. Cada vez mais os investidores estão pensando a longo prazo em termos de aplicações financeiras, por exemplo títulos públicos negociados através do Tesouro Direto com prazo entre 2035 e 2050. Antes os títulos eram mais curtos.

Existem basicamente cinco ativos em termos de relação risco retorno: juros pós-fixados (Selic/CDI), Tesouro Direto (inflação IPCA mais e pré-fixada), fundos multimercado e investimentos em ações.

Como somos (ou já fomos) o país do futebol, vale a metáfora: o jogo não está mais 4×0 a favor e não podemos mais ficar tocando a bola de lado e passando o pé sobre a bola do CDI.

Será preciso ir para o ataque e aumentar o risco e o horizonte de prazo para os investimentos. Obviamente, existem os investidores mais Pepe Guardiola e os mais retranqueiros, isto é, com perfis diferentes de risco.

Esse ambiente atual já se refletiu na indústria brasileira de fundos em 2017: segundo dados da Anbima a captação líquida total da indústria de fundos atingiu R$ 260 bilhões (dobra da captação de R$ 130 bilhões em 2016), maior entrada de recurso em fundos de investimento desde 2002.

Os fundos multimercado lideraram a captação líquida em 2017: R$ 101 bilhões (R$ 4,6 bilhões em 2016).

Os fundos de ações captaram R$ 21 bilhões em 2017 (resgates de R$ 5 bilhões em 2016). Porém, os fundos dedicados exclusivamente a ações ainda representam apenas 5% do total dos recursos aplicado na indústria de fundos.

Os fundos de previdência aberta, com horizonte de investimento mais de longo prazo, captaram R$ 45 bilhões em 2017, em comparação aos R$ 58 bilhões dos fundos de renda fixa no mesmo período.

Dentro dos fundos de previdência, houve aumento da participação dos multimercados, com captação de R$ 15 bilhões em 2017.

Acreditamos que é somente o começo da migração para os ativos de maior risco e que a taxa de juros baixa veio mesmo para ficar.

A definição do nível de risco da carteira dos investimentos é o principal passo para a determinação da rentabilidade média consolidada.

Com o fim da cultura do CDI, o retorno das aplicações financeiras deve ser pensado em termos absolutos ao ano, isto é, em termos reais descontada a inflação. Em países desenvolvidos como os Estados Unidos, com baixa inflação e taxa de juros, o rendimento das aplicações financeiras já é “pensado” pelos investidores em termos absolutos e em termos reais, acima da inflação.

No mercado brasileiro, a referência de rendimento em termos reais/absolutos é a nota do tesouro nacional IPCA mais (antiga NTNB), que tem rendimento equivalente à inflação (IPCA) mais uma taxa de juros real pré-definida por volta de 5% ao ano. Por fim, acreditamos que o investidor daqui para frente deve pensar assim para manter um patamar razoável de rendimento nas suas aplicações financeiras.

Veja ainda: Evite os 5 maiores erros dos investidores
– Entenda o que é o Tesouro Direto

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Bons investimentos!

Um abraço,

Eduardo Guimarães

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