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O superciclo do Bitcoin | Domingo de Valor

Um velho ditado do mercado financeiro é que as quatro palavras mais perigosas para o investidor são “Desta vez é diferente”. Em geral, quem as pronuncia ou escreve está surfando os momentos finais de alguma bolha especulativa. Aqueles momentos em que os preços dos ativos sobem de maneira inexplicável e insustentável, e parecem que vão manter essa trajetória eternamente. E que, claro, desabam pouco depois, deixando um rastro de prejuízos.

Mesmo assim – e correndo todos os riscos dessa afirmação – é possível dizer que o movimento de valorização atual do Bitcoin é diferente das demais altas registradas há alguns anos. Essa é a convicção da analista Fernanda Guardian, especialista em criptoativos da Levante Ideias de Investimentos e uma entusiasta das criptomoedas. E essa convicção está, como tudo o que Fernanda diz, baseada em estudos profundos e uma análise precisa e criteriosa.

 

Oferta e demanda

O Bitcoin surgiu em 2009. Foi quando os primeiros mineradores começaram a produzir as criptomoedas. Desde o início, a filosofia de seus criadores foi garantir que o ativo fosse escasso. Ou seja, a capacidade de minerar Bitcoins é finita. Esse processo será gradual. Em períodos de aproximadamente quatro anos ocorre um fenômeno chamado “halving”. Simplificadamente, a remuneração dos mineradores é reduzida pela metade. O primeiro “halving” ocorreu em 2013, o segundo ocorreu em 2017 e o terceiro acabou de acontecer.

Essa redução da oferta de novos Bitcoins provoca um aumento de preços. Esse evento não é imediato. Costuma haver um atraso de 12 a 18 meses nessa alta, que é seguida por um período de baixa. No entanto, aqui entram quatro aspectos da situação do mercado financeiro global e do mercado dos Bitcoins que podem tornar o mais recente “halving” diferente dos anteriores.

O primeiro é a situação global. Apesar de o pior momento da pandemia provocada pelo coronavírus já ter passado, novas cepas como a variante delta do vírus fazem as autoridades monetárias manter as medidas de estímulo econômico. Ou seja, as economias estão gradativamente retomando a uma situação mais parecida com a normalidade, mas os bancos centrais continuam imprimindo dinheiro aceleradamente. Isso vem sustentando sucessivos recordes de preços em ações, commodities e ativos reais, e as criptomoedas não são exceção.

 

Países, empresas e investidores institucionais

Outra alteração em relação aos “halvings” anteriores é a mudança nos participantes de mercado. O Bitcoin, assim como outras criptomoedas, nasceu da confluência entre tecnologia e ideologia. Seus criadores não eram apenas profissionais de tecnologia da informação. Também acreditavam em economia descentralizada e em evitar ao máximo a interferência do Estado em suas decisões e atividades. Daí as criptomoedas terem, a princípio, um aspecto “alternativo”.

Isso mudou. Na terça-feira (07), El Salvador tornou-se oficialmente o primeiro país a adotar o Bitcoin como sua moeda nacional. Sua economia não é das mais relevantes. Devastado por uma guerra civil que durou de 1980 a 1992, o país não tem mais uma moeda própria. Os salvadorenhos usam dólares para as necessidades do dia a dia. Mesmo assim, a adoção de uma criptomoeda pode ser um marco nesse mercado. Vários países africanos e asiáticos, em geral economias pobres, podem facilitar sua integração ao mercado internacional usando recursos semelhantes.

Há mais aspectos disso. O Bitcoin está, aos poucos, entrando no chamado “mainstream”, a economia mais formal. Muitos investidores institucionais, sem falar em gestoras de recursos, estão investindo ou lançando produtos lastreados em criptoativos. Algumas empresas estão investindo em criptoativos. O exemplo mais conhecido é o da Tesla (TSLA), do empresário Elon Musk. As declarações de Musk de que iria, depois não iria, depois iria aceitar novamente Bitcoins em pagamento pelos veículos que sua empresa produz provocaram oscilações abruptas nas cotações. A Tesla, porém, não é a única companhia que investe nesses ativos. Várias outras empresas possuem criptomoedas em seus livros. E há pesquisas que indicam que se as 500 empresas cujas ações formam o índice americano S&P 500 dedicassem 1 por cento de seu caixa ao Bitcoin, as cotações chegariam a 50 mil dólares. Se esse percentual chegasse a 10 por cento, as cotações avançariam para 400 mil dólares. Uma alta potencial de 790 por cento.

 

Infraestrutura e narrativa melhores

A terceira diferença da situação atual é a melhora na infraestrutura à disposição dos investidores. Cada vez mais, as transações com criptomoedas são realizadas por meio de bolsas de valores estabelecidas, em vez de “exchanges” pouco visíveis e desconhecidas. Só isso garante mais segurança ao pequeno investidor. Uma coisa é comprar criptoativos diretamente em uma corretora que não fornece nenhuma informação e está baseada em um paraíso fiscal. Outra, bem diferente, é investir em um Exchange Traded Fund (ETF) negociado na Nasdaq ou na B3. Essa mera diferença dissipa boa parte das restrições dos novos investidores aos criptoativos, e facilitam a formação de uma massa crítica desse mercado.

Finalmente, na avaliação da Fernanda Guardian, a quarta diferença é que agora há uma narrativa mais consistente e coincidente em relação à trajetória do Bitcoin. No “halving” anterior, houve ruidosas divergências públicas entre os desenvolvedores. E essas discussões técnicas afetaram a compreensão para além dos profissionais da área. Agora, não há disputas em relação à trajetória futura do Bitcoin e das demais criptomoedas.

 

Riscos

Essas quatro diferenças permitem prever uma alta sustentável do Bitcoin. É claro, porém, que há riscos e incertezas. Os dois principais riscos são o de mudanças na política monetária e na regulação.

Começando pela política monetária. Como vários outros ativos, o Bitcoin vem se valorizando na esteira de um aumento global e intenso da liquidez. Se os principais bancos centrais aumentarem sua preocupação com a inflação e passarem a adotar políticas monetárias restritivas, isso terá um efeito negativo sobre os preços de todos os ativos, entre eles o Bitcoin.

Outro risco é a ação dos governos. As criptomoedas nasceram com base na filosofia de uma economia descentralizada e alheia às regulamentações governamentais. Quase uma autorregulação. Movimentos financeiros não-regulamentados são uma das coisas que mais incomodam as autoridades. Não é impossível que os governantes tentem limitar, regular ou mesmo impedir as atividades com criptomoedas. Há cerca de dois meses, no dia 6 de julho, as autoridades chinesas cancelaram o registro de uma companhia de software local por estar envolvida em negociações com criptomoedas. Apesar de cerca de 65 por cento dos mineradores em atividade estarem na China, o governo vem restringindo suas atividades para facilitar a introdução de sua própria criptomoeda, o renminbi digital. Medidas como essa são externas ao mercado e não têm nenhuma relação com a oferta e demanda do Bitcoin, mas exercem uma influência profunda nos preços.

 

Comprar ou vender

Há riscos e oportunidades. Comprar ou vender? Na avaliação da Fernanda, o momento é de compra. Suas avaliações técnicas, que medem o nível de atividade e as movimentações de mineradores e Exchanges, indicam que o movimento de alta ainda está longe do fim. Claro, como ocorre com qualquer outro ativo relativamente novo, os preços dos Bitcoins estão sujeitos a fortes oscilações e solavancos sem aviso prévio. Por isso, se você quiser investir, a recomendação da Fernanda é que você faça isso aos poucos. Separe uma parcela do seu patrimônio para esses ativos e divida as aquisições em vários dias. No longo prazo não haverá muita diferença, mas você ficará menos sujeito às oscilações do dia a dia.

Boa semana, um abraço e bons investimentos.

Equipe Levante

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