Levante Ideias - Domingo de Valor

Investir em Petrobras ficou arriscado demais | Domingo de Valor

Na coluna de hoje (de número 150!) irei falar sobre a decisão institucional da Levante de tirar todas as empresas estatais das carteiras de ações da casa. Foi uma decisão alinhada entre todos os analistas da Levante, inclusive o estrategista-chefe, Rafael Bevilacqua.

Eu recomendei a meus assinantes das séries As Melhores Ações e Dividendos a venda das ações da Petrobras, Banco do Brasil e Copasa, a preços de mercado, na segunda-feira (22/fev), auge do pânico na B3.

Essa decisão foi fria e calculista. Levou em consideração o risco de se investir em estatais no Brasil, que se elevou muito nas últimas semanas com a reviravolta do governo do presidente Bolsonaro que falou abertamente sobre interferir nessas empresas.

O principal motivo para não investir nas ações da Petrobras (e de qualquer outra estatal) é simples: o principal objetivo da companhia não é o retorno para os seus acionistas. Dessa forma, acredito que a relação risco e retorno ficou bastante desfavorável para os investidores.

 

Tese de investimento

Acredito que os principais pilares para a tese de investimento da Petrobras ficaram comprometidos com a troca no comando da empresa: 1) política de preços de combustíveis respeitando a paridade internacional de câmbio e preço do petróleo; 2) venda de ativos, principalmente as refinarias e; 3) redução do endividamento da companhia.

 

O que mudou?

Acredito que o atual Governo dificilmente irá fazer as privatizações das empresas estatais (o trio Banco do Brasil, Eletrobras e Petrobras), uma promessa do então candidato Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial de 2018.

Para nós ficou claro que a chance de privatização das estatais diminuiu bastante e que a interferência política na administração dessas empresas ficou evidente com a troca no comando da Petrobras e a possível saída de André Brandão da presidência do Banco do Brasil.

 

Reeleição presidencial

Jair Bolsonaro parece estar mais interessado na sua reeleição em 2022, ficando ao lado dos seus eleitores caminhoneiros, do que no equilíbrio das contas públicas e na eficiência das empresas estatais.

A maneira como foi feita a troca no comando da Petrobras estressou as práticas de Governança Corporativa e a política de preços de combustíveis da companhia.

Acredito que o preço do petróleo deverá continuar subindo em 2021, devido ao reaquecimento econômico e ao processo de vacinação do coronavírus que pode reabrir a economia mundial.

 

Preços do petróleo em recuperação

O preço internacional do petróleo estava em 50 dólares por barril do tipo Brent no  fim de 2020. Atualmente o barril do tipo Brent subiu para 65 dólares, aumento de 30 por cento, o que pressiona as margens do segmento de refino da Petrobras.

 

Política de preços dos combustíveis

A incerteza sobre a política de preços de combustíveis da Petrobras aumentou bastante. No momento não tenho nenhuma clareza se os efeitos do aumento dos preços do petróleo e da depreciação cambial serão repassados aos preços dos combustíveis.

Petróleo mais caro e dólar mais alto significam preços mais elevados para a gasolina e para o óleo diesel nos postos de combustível. Aqui não é a Venezuela (“o petróleo é nosso”) e alguém tem que pagar essa conta.

O preço dos combustíveis é muito sensível, pois tem impacto direto na inflação: um aumento de 15 por cento na gasolina representa cerca de 0,5 ponto percentual a mais na inflação medida pelo IPCA. Inflação em alta é algo muito impopular para um presidente que busca a reeleição.

Essa conta pode ser paga pelo Governo (Federal e Estadual) por meio da redução de impostos (PIS/COFINS e ICMS) ou pelos acionistas da Petrobras. O mais provável parece ser a segunda opção. A paridade internacional de preços não deverá ser mantida, o que prejudicaria a Petrobras e elevaria o seu endividamento, exatamente o que já aconteceu num passado recente.

 

Círculo vicioso

Portanto, dois dos principais da minha tese de investimento na Petrobras – a venda de ativos (refinarias) e a redução do endividamento -, poderão deixar de acontecer por dois motivos. O Governo ser contrário à venda das refinarias e/ou os compradores desaparecerem devido à maior insegurança jurídica sobre a política de preços dos combustíveis.

Mesmo sem vender ativos, o endividamento da Petrobras deverá aumentar se a política de preços não for mantida, o que pode impactar a distribuição de dividendos no futuro.

 

Aumento do risco-país

Dessa forma, os fundamentos da companhia no longo prazo mudaram demais em poucos dias e a incerteza aumentou muito, inclusive com impacto no risco-país, medido pelo CDS de 5 anos que subiu de 158 pontos base na sexta-feira (19/fev) para 186 pontos na segunda-feira (22/fev), alta de 15 por cento.

O aumento do risco-país explica a queda generalizada no preço das ações das empresas na B3, que não ficou limitada somente às estatais.

 

Interferência nos preços

Agora irei comparar duas empresas do setor de commodities: Vale e Petrobras. Uma foi privatizada e a outra permanece estatal. Uma pode aumentar livremente o preço dos seus produtos, a outra não.

Por um momento imaginem a situação: alta dos preços do minério de ferro, atualmente  acima dos 175 dólares por tonelada, com câmbio atual por volta dos 5,50 reais por dólar.

Entretanto, o Governo interfere e não deixa a Vale aumentar o preço do minério, pois o reajuste vai elevar o preço do aço e causar efeito inflacionário no mercado doméstico, impactando no IPCA.

Neste exemplo, o resultado da Vale seria prejudicado: queda na margem, geração de caixa menor, aumento no endividamento e menor pagamento de dividendos, um círculo vicioso.

 

Perfil de risco

Cada investidor tem um perfil de risco e decide quais ações deve comprar e vender. Alguns dos nossos seguidores/assinantes não concordaram com a nossa decisão de “estopar” a posição nas ações da Petrobras.

Na minha opinião, os fundamentos da Petrobras mudaram bastante com a interferência política e o risco de se investir nas ações (PETR4) aumentou demais.

 

Opinião contrária

Por outro lado, se você acha que a Petrobras vai conseguir aumentar livremente os preços dos combustíveis (diesel e gasolina) quando o petróleo subir para os 75 dólares por barril do tipo Brent, então faz sentido para você não vender as ações da estatal.

Outro ponto importante para quem continua investindo na Petrobras: é preciso acreditar que a estatal vai conseguir vender as refinarias e reduzir o seu endividamento.

 

Recomendação aberta

A Petrobras, que era uma recomendação aberta da Levante, tinha 10 por cento de participação na minha carteira As Melhores Ações, que é bastante diversificada em termos de setores e empresas, de maneira que a relação entre risco e retorno fosse favorável, com objetivo de obter retorno acima do Ibovespa.

Por último, gostaria de citar um princípio básico para investimento em ações: “nunca coloque todos os ovos na mesma cesta”. Então, aproveite as recomendações de ações abertas da Levante, mas NUNCA coloque todo o seu patrimônio em uma única empresa. Nas nossas carteiras, uma empresa tem, no máximo, 15 por cento de participação.

Abraços,

Eduardo Guimarães

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